segunda-feira, 23 de julho de 2012

O Carpinteiro


Texto extraído de um calendário, feito por mim, onde havia uma foto de uma poltrona antiga, a qual restaurei. Ficarei devendo a foto... postarei ela numa outra postagem...

A figura ilustrativa do primeiro dia, retrata uma poltrona restaurada.
            Eu a encontrei com o lastro quebrado e com todos os parafusos soltos. Estava no lixo. O freteiro que contratei para buscá-la, não me encontrando em casa, a deixou jogada na rua, não vendo algo valioso nela.
Arrastei-a para dentro, aos pedaços.
            Desmontei toda ela. Restitui o lastro. Juntei as peças. Apertei os parafusos. Limpei. Passei fungicida. Pintei com esmalte transparente. Comprei um colchão de solteiro. Cobri-lhe com uma manta, e almofadas coloridas.
            Ficou alegre e aconchegante.
            Sou uma espécie de carpinteira fajuta.
            Noite dessas, chuvosa, Débora, 19 anos, aconchegada nela me confessava: “É bom estar aqui. Noutros tempos eu estaria na noite, a esta hora, com frio, suja, me drogando”.

            Em 04/03/2002 eu estava jogada fora. Não passava ninguém que se interessasse por mim. Eu escrevi na minha agenda aquele dia: “Tenho, a cada dia, mais saudades do amor que sonhei. Não um amor piegas, idiota: mas aquele que chega pra ficar. Que eu comparo sempre a uma poltrona macia. Eu quero alguém que me aceite como uma poltrona macia. Eu quero me estarrar nesta poltrona, e ficar com ela toda a vida. Deixe que fure, que o cupim coma - ela estará sempre com os braços abertos para mim.”
            Em 26/03/2002: “Não sou nada. Não tenho nada, nem gosto para coisa alguma. O que eu tô fazendo aqui? Será que morrer não seria alguma coisa com mais graça que isto?”
            Em 12/04/2002: “Eu hoje joguei tantas coisas fora. Tem um salão vazio, dentro de mim. E as paredes internas estão precisando de pintura.”
            Em 20/11/2002: “Estou tão longe de mim. Do mundo. Parece que estou voando, mas minhas asas não são do meu gosto. Só as minhas contas vencendo a todo momento são deste mundo”.
            Em 27/11/2002: "No meu interior nem um estalar de graveto se ouve, e enquanto escovava meus dentes, hoje, percebi que meus olhos estavam meio mortos, como dentro de mim tudo o mais está”.
            E eu lia Marx, Weber, Keynes, Platão, Freud, Yung, Saussure... até lia a Bíblia, mas acreditava mais em mim. Praticava meditação, alcoolização, espiritismo, candomblé, prostituição; cria em horóscopo, cartomante, Bicho Papão... Pensava que sabia, só porque já respirava há 40 anos, dos quais mais de 30 em sala-de-aula e de 15 convivendo com doutores... Mas tinha meus lastros soltos, como todo mundo, só conhecia Jesus de ouvir falar. Não conhecia o Carpinteiro.
            Um dia Jesus abriu os braços pra mim. Me tirou do lixo. Consertou o lastro do meu coração. Apertou os parafusos dos meus medos. Lavou minhas vestes. Me cobriu de um manto de justiça. Vivificou meus olhos .
Me amou.
            O mundo pensa que conhece Jesus. Fala nele, lêem sobre ele, e têm, inclusive, aqueles que até matam em nome dele, outros, ainda, o crucificam novamente.
            Quase tudo que há, histórica e analiticamente falando, gira em torno, direta ou indiretamente da pessoa de Cristo. Até as cédulas de dinheiro lhe fazem referência.
            Alguns ousam dizer que crêem nele. Mas a maioria só o conhece de ouvir falar.
            Intrigante, é que Ele mesmo já dizia que poucos estariam com Ele.
            Enquanto estamos no lixo só conhecemos Jesus de ouvir falar.
            Somente quando nos deixamos ser restaurado por Ele, é que o conhecemos verdadeiramente e nos tornamos parecidos com Ele - viramos carpinteiros também: de gente, como poltronas vivas e de braços abertos para aqueles que estão jogados fora.

            “Vinde a mim todos que estais cansados e sobrecarregados, que eu vos aliviarei”, disse Jesus Cristo, em Mateus 11:28

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